Design e Expansão dos Sentidos
Realidade Aumentada e Texturizada
Em 2018 a Nintendo apresentou ao mundo seu novo jogo, na época anunciado “para todas as crianças ou adultos que ainda tivessem sua criança interior”. Quando publicaram o primeiro trailer, pegaram todos de surpresa: seu novo jogo, chamado de Nintendo Labo, era um conjunto de peças de papelão que vinham desmontadas para que os jogadores as montassem e manipulassem para movimentar os personagens do jogo - virtual - na tela do console.
Jogos de realidade aumentada não são novidade, inclusive a Nintendo teve sua participação na popularização do conceito anos atrás, com o Nintendo 3DS. O console, lançado em 2011, era acompanhado pelas AR Cards, um conjunto de 6 cartas com o desenho de personagens que podiam ser escaneados com a câmera do videogame portátil. Desse modo, ao apresentar diversos minigames sem custo adicional, já instalados no console, a empresa foi responsável pelo primeiro contato de diversas pessoas com o conceito.

Sete anos mais tarde, com o lançamento do Nintendo Labo, a empresa trouxe de novo a Realidade Aumentada para o destaque no mundo dos jogos. Aqui, porém, cabe comparar os dois lançamentos para também explicar os motivos de a brincadeira de papelão ser uma mudança importante na área. Os AR Cards funcionam da forma mais comum de ser observada: você posiciona a carta em uma superfície plana e utiliza o console interagindo com a peça, funcionando enquanto a carta estiver no campo de visão da câmera. Isso faz com que o olhar do jogador interaja com o ambiente, pois os mini-games são projetados virtualmente ali onde você estiver. Entretanto, a experiência ainda é 100% digital e virtual, pois depois que você posiciona a cartinha não há mais nada que o mundo físico te ofereça no campo das interações.
Já o Nintendo Labo é outra história bem diferente. Quando você compra o pacote, que é enviado em uma caixa com diversas folhas de papelão recortadas e impressas - porém não destacadas muito menos montadas - a maior parte da sua interação é exatamente no mundo físico, com o virtual trabalhando de suporte apenas para garantir que a mágica aconteça. Isso inverte o cenário, pois o que antes era inteiramente virtual, com uma cartinha ou outro elemento físico apenas para suporte, agora é muito mais interativo com a fisicalidade e textura dos materiais sendo parte ativa do videogame.

Além do tato, a audição também se torna mais forte. Não que os sons não fossem importantes nos jogos antes, muito, mas muito longe disso. Entretanto, como o Nintendo Labo faz com que você olhe em alguns momentos mais para os pedaços de papelão do que para a tela, o som assume um papel de certa maneira mais individual, onde ele precisa manter o jogador imerso mesmo nesses instantes onde o visual do jogo não está sendo visto.
Desse modo, o jogo Nintendo Labo chama a atenção por, além de retornar com a Realidade Aumentada para os videogames, ele muda as regras do que a gente estava acostumada a ver e apresenta um meio de o jogador interagir muito mais com peças físicas, que as pessoas podem sentir. Peças de papelão encaixadas utilizando cordas e fitas possuem, além de textura, a capacidade de transmitir sensações mecânicas com o mover das peças, expandindo as sensações do jogador.



Falando sobre como o jogo funciona, a sua primeira etapa é a montagem. Na tela do console é possível escolher o modelo a ser montado, para, após isso, abrir um guia interativo de passo a passo sobre como realizar cada encaixe até chegar ao resultado final. Porém a interação não acaba na montagem: um modo especial do jogo explica em detalhes como as montagens funcionam, ensinando como que os sensores captam o movimento e quais partes são usadas.
Em resumo, o funcionamento do brinquedo parece simples: o controle que é colocado na montagem de papelão possui uma câmera infravermelha, que capta os reflexos de luz no interior, onde são coladas pequenas fitas adesivas refletivas para marcar a posição. Assim, o controle “visualiza” a posição dessas fitas no interior do papelão e, quando elas se movimentam, transmite isso para o jogo em tempo real, trazendo resultados virtuais para sua experiência física. É possível conferir em detalhes o funcionamento no vídeo abaixo:
Portanto, é esperado que a experiência seja, no mínimo, encantadora. Adicionar novos recursos e fazer um jogo interagir de verdade com o mundo físico, trazendo novos materiais para o mundo virtual é algo que responde porque a Nintendo continua surpreendendo tantos momentos. Além do Nintendo Labo, esse ano a empresa investiu mais uma vez na Realidade Aumentada e acabou de lançar o jogo Mario Kart Live, onde você comanda um carrinho de controle remoto com câmera pela sua sala, disputando contra outros personagens virtuais, com itens e obstáculos inseridos virtualmente na pista física criada dentro de casa. Entretanto, os jogos são completamente separados, e aqui não posso deixar de imaginar como poderia ser interessante uma união entre os dois: comandar o carrinho de Mario Kart usando o volante do Labo poderia ser uma combinação interessante.
Imagens: pplware; TecMundo; Nintendo 3DS; Nintendo Labo